A sensação geral entre os empregados (as) é a de que, por trás da fachada de avanços simbólicos, persistem velhos e graves problemas de gestão, governança e estrutura. A Caixa enfrenta uma série de desafios operacionais e institucionais que têm sido ignorados ou mal resolvidos atualmente.
A direção da empresa apresentou anteontem seu novo estatuto. A gestão optou por manter o teto de 6,5% no custeio do Saúde Caixa, frustrando expectativas e gerando indignação entre trabalhadores e suas entidades — sobretudo após meses de sinalizações públicas de que o limite seria finalmente retirado.
A área de TI, estratégica para o banco, continua sem vice-presidente após demissão recente — e já ficou marcada por falhas recorrentes: faturas de cartão duplicadas, instabilidade no Pix, e panes no aplicativo do FGTS. O projeto Teia, lançado como carro-chefe da transformação digital, mobilizou mais de 3 mil empregados, consumiu altos recursos e deve ser descontinuado sem apresentar melhorias concretas para os sistemas do banco. Muitos trabalhadores envolvidos ainda estão sob risco de perder suas funções anteriores, e o projeto passou a ser apontado por entidades sindicais como mais uma tentativa de fragilizar a estrutura do banco rumo à privatização silenciosa.
Além da TI, outras vice-presidências importantes, como a de Governo, seguem vagas há mais de um ano, assim como diversas diretorias. O problema de governança da Caixa se agrava com a indefinição de lideranças e o avanço da migração de processos para subsidiárias — movimento que, quase um ano depois, não resultou em benefícios reais nem para o cliente, nem para os trabalhadores (as), tampouco para a competitividade da instituição.
Nas Loterias, o cenário é de desorganização completa: demissão da presidente da subsidiária, estrutura administrativa desordenada, a “raspadinha” com desempenho abaixo do esperado, e o recente descredenciamento da Caixa para operar as apostas esportivas, comprometendo ainda mais a imagem institucional e os negócios do banco.
A tudo isso soma-se um dado alarmante: a explosão nos afastamentos por adoecimento mental entre os empregados. Segundo estudo do DIEESE encomendado pela Fenae, 74% das licenças por acidente de trabalho na Caixa, entre 2023 e 2024, foram causadas por transtornos mentais e comportamentais — índice muito acima da média nacional (5,99%). Episódios depressivos, transtornos ansiosos e reações ao estresse grave estão entre os diagnósticos mais recorrentes.
Foi celebrada a criação de uma cota mínima de mulheres nos cargos de gestão. Embora a medida atenda a uma cobrança histórica das entidades representativas dos empregados e empregadas e represente um avanço, o percentual ainda está longe de refletir a realidade do banco, onde as mulheres já representam 45% da força de trabalho.
Enquanto o banco se esforça para promover uma imagem de modernização, a realidade mostra uma instituição desorganizada internamente, adoecida e com falhas graves em sua governança e infraestrutura digital. O estatuto pode ser novo — mas, até agora, é apenas mais um verniz sobre problemas estruturais que seguem sem resposta.