No último domingo, dia 25, Brasília, Goiânia, Ribeirão Preto entre muitas outras cidades dos estados de São Paulo, Goiás, Minas Gerais e do Mato Grosso amanheceram cobertas por fumaça. A situação não é inédita. Em 2019 o País ficou atônito ao ver o dia virando noite por volta das 15 horas na capital de São Paulo.
Na época, apurou-se que a fumaça era proveniente de uma organização entre fazendeiros cujas propriedades ficavam próximas à BR – 163, na região de Novo Progresso, estado do Pará. Cerca de 478 propriedades rurais foram incendiadas com vistas a desmatar as áreas de proteção ambiental para legalizar à força o uso da terra para a agricultura e a pecuária. O episódio entrou para a História com o nome “Dia do Fogo”, e um ano após o crime ambiental, agosto de 2020, apenas 5% dos fazendeiros haviam sido punidos.
Porém, eram outros tempos, tempos do governo Bolsonaro, que apoiava abertamente a diminuição de reservas ambientais na Amazônia e em qualquer outro bioma brasileiro.
“Fortes suspeitas de que esteja ocorrendo novamente”, afirma Marina Silva
Há similitudes entre o Dia do Fogo de 2019 e a catástrofe sofrida por cidades da região central do Brasil ontem e hoje. Em entrevista coletiva, a ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas (MMA) Marina Silva afirmou: “Da mesma forma que tivemos o Dia do Fogo há uma forte suspeita que esteja acontecendo de novo”.
No mesmo sentido, o presidente Lula, que tem acompanhado as reuniões sobre o tema direto da sala de situação, explicou: “Não conseguiram detectar nenhum incêndio causado por raios. Isso significa que tem gente colocando fogo na Amazônia, no Pantanal e sobretudo no estado de São Paulo”.
De acordo com o IBAMA, há indícios de que os incêndios tenham sido coordenados, com pessoas começando focos no mesmo dia e horário. Na internet alguns vídeos foram divulgados mostrando a ação incendiária humana. Junto ao IBAMA, a ministra instou a Polícia Federal a abrir investigações para a averiguação. Até agora, 31 inquéritos foram abertos.
O Futuro é agora
A nova meta climática para o Brasil apresentada pelo Observatório do Clima – entidade que congrega as principais organizações ambientalistas do País – é que o Brasil corte suas emissões de gases de efeito estufa em pelo menos 92% até 2035 em relação a 2005.
A meta é baixar as emissões de 2.440 milhões de toneladas de gás carbônico equivalente emitidas no ano de 2005, para 200 milhões de toneladas líquidas em 2035.
Mas ainda há mais a ser feito, e de forma ainda mais rápida. Conforme explica Helen Sousa, pesquisadora do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), é essencial que se aumente o monitoramento da qualidade do ar. “Embora os efeitos visíveis dos incêndios na qualidade do ar sejam evidentes, o monitoramento fornece dados detalhados e precisos sobre os níveis de poluição, permitindo avaliar a real exposição da população e verificar se a qualidade do ar está melhorando ou piorando”.
A qualidade do ar impacta de forma direta a saúde de pessoas e animais. Somente em Ribeirão Preto, neste final de semana, houve aumento de 60% de procura de atendimento médico problemas respiratórios. Além de piorar problemas respiratórios, a fumaça dos incêndios aumenta a incidência de infarto, AVC e de câncer segundo pesquisas.
“Essas informações (sobre a qualidade do ar) são essenciais para implementar medidas de proteção adequadas, desenvolver políticas e comunicar os impactos à saúde de maneira precisa”, conclui a pesquisadora.