Apesar do lançamento “de uma solução inovadora para pagamentos offline” durante a Febraban Tech – principal evento de tecnologia bancária do País ocorrido entre 25 e 27/06 – o que marcou a presença da Caixa no encontro foram as falas de representante da TI do banco (consultor de TI) especializado em Inteligência Artificial da Caixa e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em um dos diversos painéis do evento.
A fala da Caixa teve frases como “Para dar um bom dia à TI demora 6 meses”, entre outras que deram a entender que a área de tecnologia da Caixa é burocrática porque se preocupa demais com questões secundárias como compliance, documentação, testes e segurança. Além de sugerir que a área de TI do banco deve liberar aplicações digitais feitas com rapidez e que, caso falhem, sejam corrigidas já em uso pelos clientes, o representante da instituição ainda expôs algo que diz ser uma estratégia da Caixa: a contratação de startups.
Para essas, chega a dizer que a Caixa está colocando “dinheiro pesado”. Investimento que a área de TI espera há anos para a renovação do parque tecnológico, em ferramentas e na contratação de mais profissionais.
Ou seja, a fala na Febraban Tech revela uma visão depreciativa com a área de TI, de seus empregadas e empregados, setor que é fundamental não só para o avanço, mas para a manutenção do banco e a priorização de soluções externas. Também choca a afirmação de que não se precisa seguir todos os protocolos necessários de Segurança da TI, o que tem claros questionamentos quanto à segurança do dinheiro dos correntistas.
Desvalorização dos empregados
A desvalorização dos empregados de TI da Caixa durante o painel da Febraban Tech não passou despercebida. O Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados e Tecnologia da Informação do Estado de São Paulo (SindPD-SP) enviou um ofício à presidência da Caixa expressando repúdio pelas declarações, consideradas “desrespeitosas, inadequadas e prejudiciais à imagem da Caixa Econômica Federal”, de acordo com o documento. O ofício ainda relembrou que a Caixa é um dos maiores tomadores de serviço da categoria.
No mesmo sentido, Adriano Martins Antonio, também professor universitário e especialista na área de TI e em Gestão e Governança de TI, levantou uma série de questionamentos sobre o tema e, principalmente, questionamentos sobre a visão do cliente, visto a falta de responsabilidade com legislações, governança e segurança, principalmente em se tratando de um banco. Veja análise do professor no link que segue: https://www.youtube.com/watch?v=BkORgIoS8Mg&t=3s
Além disso, as falas do painel renderam memes diversos na internet, indignação e incredulidade nos grupos de WhatsApp e por parte de especialistas, profissionais e estudantes da área. Uma repercussão negativa que afeta a reputação da Caixa.
Teia: principal projeto de inovação sumiu na palestra
Há ainda mais um lado importantíssimo nessa conjuntura: a Teia, mais um dos vários projetos de “Transformação Digital” que o banco assiste há muitos anos. A Teia recebeu um grande investimento financeiro da Caixa e foi desenvolvida em um processo que mobilizou a empresa e as áreas de governança, levando milhares de empregados a saírem de seus cargos para construir o projeto.
Baseado, ao menos no discurso, nas melhores práticas de governança digital e na construção de uma nova cultura na empresa, a Teia deveria ser um dos temas da apresentação da Caixa no Febraban Tech, como case de inovação e avanço tecnológico do banco. Não foi o que ocorreu.
Contudo, esse grande esforço foi desvalorizado e passou um recado contraditório aos empregados. A Caixa investe ou não em tecnologia? A área de TI é ou não importante? A par dos últimos acontecimentos, se fizermos uma breve pesquisa junto aos empregados sobre tecnologia na Caixa que o termo “o Scrum master é um inútil” venha mais à mente da maioria dos entrevistados do que a estratégia da Teia. Tudo somado, muitos se perguntam como se deu a escolha para a participação em um evento tão importante. A Caixa tem profissionais com uma capacidade altíssima para tal e comprometidos com a reputação e com a imagem do banco.
A Caixa respondeu ao ofício do SindPD afirmando que “As declarações na participação do colega no Febraban Tech não são corroboradas pela nossa empresa em todos os níveis”.
Se a fala e a indicação do como porta-voz foram um engano, espera-se uma resposta na prática fortalecendo a TI na Caixa.