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O bicho-papão da inflação volta a assombrar o povo brasileiro

E ele aparece descaradamente, à luz do dia, no supermercado e no posto de combustível

 

Da Redação

Com a falta de índices econômicos favoráveis, cujas expectativas não foram atendidas ao longo dos quase quatro anos de sua gestão neoliberal, um dos argumentos recentemente apresentados pela campanha de Jair Bolsonaro, a favor de sua reeleição, diz respeito à deflação medida nos três últimos meses. Facilmente adquire-se informações provenientes de veículos confiáveis que apontam divergências entre os índices de preços medidos por instituições governamentais. Além disso, outros veículos de imprensa sugerem que as causas da atual deflação estão diretamente relacionadas a medidas eleitoreiras que prejudicam a população a médio e a longo prazo. Para termos de análise de desempenho da gestão econômica atual, mais significativo é comparar os índices econômicos atuais com os do governo Lula (haja vista as campanhas eleitorais correntes) ou com o dos outros países na atual conjuntura.

Conquanto o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) tenha apontado uma baixa de 0,51% no preço de alimentos e bebidas[1], a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP) indicou uma inflação de 2,24% em setembro[2]. A divergência entre as instituições federais é curiosa e faz suscitar reflexões sobre qual dos índices mais representam o real impacto das variações de preço ocorridas ao longo do mês passado para a classe assalariada.

O índice de preços considerado oficial, no entanto, é o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Calculado pelo IBGE, indica a variação do custo de vida médio das famílias com renda mensal de um a quarenta salários mínimos. Nos meses de julho, agosto e setembro do corrente ano, obteve-se os índices, respectivamente apresentados, de -0,68%, -0,36% e de -0,29%. E, segundo os economistas, um dos fatores responsáveis pelas quedas sucessivas é o preço dos combustíveis[3].

Prevendo maior rejeição no percurso de sua campanha, em junho deste ano, Bolsonaro sancionou lei que limita o ICMS em 17% referente ao preço dos combustíveis, comunicações e transportes coletivos[4], mas foi incapaz de modificar a política de preços aplicada pela Petrobrás (em dólar e obedecendo ao mercado internacional), exceto mais recentemente, de forma velada. Segundo apurações efetuadas pela imprensa[5], com o intuito de frear ou diminuir o preço dos combustíveis, haveria uma movimentação do Planalto no sentido de trocar nomes de alto escalão da petrolífera, tais como Rodrigo Araújo Alves e Cláudio Mastella, respectivamente o diretor de Finanças e Relacionamento com Investidores e o diretor de Comercialização e Logística. Artifício semelhante rendeu uma ação de improbidade administrativa movida pelo Ministério Público Federal (MPF) em desfavor da ex-presidente da Petrobras Graça Foster e do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega. Em destaque, os procuradores federais ainda afirmaram que “…em realidade, eles atuavam segundo orientação do governo federal, que intentava segurar a inflação, tendo em vista as eleições presidenciais de 2014”[6].

No atual cenário internacional, com uma guerra de grandes proporções depois de uma pandemia ainda não totalmente extirpada, a capacidade de oferta tornou-se um problema mundial. Destarte, a inflação passou a fustigar países que há muito não sofriam dessa realidade. No caso brasileiro, o país está na 123ª posição de um ranking composto por 186 países. Considera-se, para tal, a inflação acumulada nos últimos doze meses, que, no caso brasileiro, foi de 7,17%. No G20 o país estaria na 14ª posição, logo atrás dos Estados Unidos, da Alemanha, da França, do Reino Unido e outros. Segundo Tiago Feitosa[7], especialista em mercado financeiro da T2 Educação, caso forem desconsiderados os choques a curto prazo – referentes à redução de impostos para combustíveis, energia e telecomunicações – o país fica na quarta colocação no ranking, atrás somente de Rússia, Argentina e Turquia.

Mas, a título de comparação, nada impede de contrastar tal desempenho ao de outras gestões, por exemplo, do governo Lula (2003-2010). Lembrando sempre que houve uma crise econômica global, em 2008, em função da especulação imobiliária estadunidense. Ainda assim, o governo petista pegou o país com 14,7% de inflação e o entregou com 6,5%[8]. Trata-se de apenas um dos parâmetros econômicos que interfere no poder de compra e na previsibilidade financeira.

Fica evidente, dessa forma, que o Brasil passa por um período de aumento geral nos preços de bens e serviços como não era visto há tempos. O poder de compra dos brasileiros caiu vertiginosamente no atual governo e a miséria faz parte do cenário de todas as cidades do país.  Não há mais segurança no controle do orçamento doméstico, porque a inflação faz com que menos dinheiro circule no mercado, o que afeta a demanda das empresas e, consequentemente, ocasione demissões e desemprego.

Com esse bicho-papão voraz do dinheiro do povo à solta, como um ministro da economia pode cogitar desindexar o reajuste do salário mínimo da inflação? Só pode ser crueldade! Pena que essa NÃO é mais uma das lendas do folclore brasileiro. É a amarga realidade do dia a dia do povo brasileiro.

[1] https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/precos-e-custos/9258-indice-nacional-de-precos-ao-consumidor.html

[2] https://ceagesp.gov.br/entrepostos/servicos/indice-ceagesp/indice-ceagesp-sobe-224-em-setembro/

[3] https://g1.globo.com/globonews/conexao-globonews/video/economista-explica-impacto-da-deflacao-de-029-em-setembro-no-bolso-do-consumidor-11016891.ghtml

[4] https://www.camara.leg.br/noticias/890296-bolsonaro-sanciona-lei-que-limita-icms-de-combustiveis-mas-veta-compensacao-a-estados

[5] https://www.gazetadopovo.com.br/eleicoes/2022/como-os-numeros-da-economia-nas-proximas-semanas-podem-influenciar-o-segundo-turno/

[6] https://www.infomoney.com.br/politica/mpf-processa-graca-foster-e-mantega-por-manterem-combustiveis-a-precos-baixos-no-governo-dilma/

[7] https://einvestidor.estadao.com.br/comportamento/inflacao-no-mundo-aumenta-precos/

[8] https://fup.org.br/confira-estudo-do-dieese-que-compara-dados-economicos-e-sociais-dos-governos-lula-e-bolsonaro/