CAIXA, um bem público na vida das pessoas.

Mudar a estrutura basta?

Da Redação

 

A criação da vice-presidência de Sustentabilidade e Empreendedorismo (VISUT), com a chegada da nova direção da empresa após os escândalos de abuso sexual e assédio institucionalizado enquanto prática de gestão do presidente anterior, em princípio até poderia ser um passo a se celebrar. Contudo, é importante atentarmos que se alguns elementos não forem evidenciados, discutidos e trabalhados, essa ação caminha para mais uma cortina de fumaça e, pior, a serviço da mesma agenda de desmonte público que a anterior se prestava.

O primeiro passo é trabalhar na direção e alta gestão da CAIXA o entendimento de Sustentabilidade pois, no próprio momento de lançamento e comunicação da VISUT, havia dirigente usando de forma aberta e pejorativa a expressão “abraçar árvores”, para se referir à agenda de sustentabilidade. Muitos não sabem nem o porquê de uma área com esse foco ou a reduzem a criadora de discursos e adaptações “estéticas” em produtos existentes para serem chamados de sustentáveis, num esforço mais de escrita criativa do que de fato compromisso com sustentabilidade.

O segundo passo é estabelecer com clareza as pautas e agendas às quais a CAIXA buscará servir o país neste tema, levando em conta o perfil e as especificidade de um Brasil que possui dezenas de Brasis extremamente desiguais entre si. Esse entendimento é fundamental para evitar movimentos de autopromoção como o CAIXA para Elas que tem servido, segundo denúncias feitas recentemente, para levar dirigentes por todo país promovendo o governo (da mesma forma que o presidente anterior fez com o CAIXA Mais Brasil), infringindo a legislação eleitoral e oferecendo os mesmos produtos que já existiam, com uma “roupagem” diferente.

Isso não é sustentabilidade, isso é socialwashing como já indicamos: assinar uma série de protocolos de intenção e querer vender os mesmos produtos que já existiam com um novo nome, não mostra em nada uma intervenção genuína e direcionada às mulheres em seus múltiplos e variados contextos, pois as ações que aí estão continuam ocorrendo como se toda mulher fosse igual, o que não é verdade.

Outra fixação desta administração que se percebe no dia a dia das agendas e discursos das pessoas envolvidas é o Empreendedorismo, defendido por estas pessoas que aí estão crentes na lógica liberal de mercado como a única solução para todos os problemas. O empreendedorismo é sim uma ferramenta válida e importantíssima, mas não é uma panaceia.

O discurso “seja seu próprio patrão” e “com esforço você pode chegar em qualquer lugar” tiram de perspectiva problemas graves aos quais a CAIXA tem por obrigação histórica atuar tais como o machismo e o racismo estruturais, a desigualdade instalada como desenho no próprio sistema de mercado, a exclusão de parcelas enormes da população, o baixo nível e qualidade de educação e a precarização do trabalho e a superexploração das pessoas.

O empreendedorismo não resolve e não traz para a pauta nenhuma destas questões, mas serve como um excelente desvio de atenção (outra cortina de fumaça) para que as pessoas sejam as únicas responsáveis pela boa ou má situação em que estão. Reforçamos que o empreendedorismo é importante sim, contudo, ele deve ser oferecido, promovido e disseminado, primeiro, para as pessoas que desejam seguir este caminho. Em segundo lugar, sem diminuir as importantes pautas sociais que são necessárias e que essa gestão, alinhada ao modelo Paulo Guedes de trabalho, faz questão de ignorar ou minimizar.

Para a CAIXA resgatar e consolidar seu papel como principal promotora da sustentabilidade forte em todo o Brasil, como já esteve em sua missão e de onde jamais deveria ter saído, é importante que a próxima administração do governo Lula avalie a seguinte agenda:

 

  1. Adotar a Sustentabilidade como um valor incorporado à cultura CAIXA. Desta forma, importante a reversão de perdas desta administração, com a criação de uma vice-presidência de Pessoas e Sustentabilidade, que possibilitará tanto a incorporação do tema como um valor da cultura quanto criará o arcabouço institucional e os processos que assegurem coerência das práticas de sustentabilidade para os humanos que fazem a CAIXA quanto para os humanos que a CAIXA serve.
  2. Resgatar a presença nos compromissos e organizações nacionais e internacionais de promoção da sustentabilidade dos quais a CAIXA foi retirada, como CEBDS, Ethos e PNUD.
  3. Incorporar nos modelos de avaliação de desempenho de unidades e de pessoas mecanismos de mensuração de sustentabilidade, de cooperação e cuidado, inclusive com atuação sobre os resultadas das pesquisas de clima com desdobramentos efetivos e acompanháveis.
  4. Adotar práticas explícitas antirracistas e feministas em todas as dimensões e frentes de atuação com os empregados: integração de novos concursados, formação de empregados, seleção e avaliação de potencial com a retomada dos bancos de sucessores de maneira contínua com empresa externa e transparência de parâmetros e critérios adotados na seleção e nos feedbacks; formação de gestores com laboratório e acompanhamento dedicado para se trabalhar desde o estilo comportamental às falas e práticas adotadas em situações reais – é urgente formarmos gestores que saibam lidar e cuidar de pessoas, entre outras.
  5. Garantir autonomia orçamentária e estratégia do FSA para atuação por todo o Conglomerado CAIXA seja por meio de uma entidade jurídica separada (como fundação ou instituto) seja por meio de governança para que ele cumpra seu papel de atuar em múltiplas frentes, temas e regiões e não ser usado de forma casuística como tem acontecido.
  6. Adotar compromisso com a promoção de soluções, serviços e arranjos locais sustentáveis e não-empresariais, isto é, que a CAIXA garanta espaço e acesso a recursos técnicos e financeiros para indivíduos e comunidades desenvolverem-se sem ter que necessariamente criar empresas e negócios com fins lucrativos.
  7. Adotar os conceitos de economia circular como parâmetro para o desenvolvimento e manutenção de qualquer negócio e processo desenvolvido pela CAIXA (seja os seus próprios sejam os oferecidos à sociedade).
  8. Criar um laboratório de práticas de transição para uma economia regenerativa e distributiva, em parceria com organizações internacionais e nacionais referência no tema, para que sejamos o celeiro de talentos de uma nova época e a principal provedora de caminhos de futuro sustentáveis para o Brasil e para o mundo, especialmente, em intercâmbios para fortalecer e recuperar o protagonismo do Brasil nas cooperações sul-sul e de países em desenvolvimento.
  9. Incorporar em nosso planejamento estratégico o mapeamento e a mensuração dos serviços ecossistêmicos envolvidos, primeiramente em nossa operação e, em seguida, em todas as cadeias, negócios e indivíduos que financiarmos.
  10. Resgatar o desenvolvimento regional sustentável como diretriz na concepção e estabelecimento das metas de desempenho em negócios e unidades, assegurando que sejam indicadores de desenvolvimento comunitários e humanos o objetivo primeiro dos nossos negócios, inclusive, como um símbolo e prática desta cultura da sustentabilidade em que explicitamos que a CAIXA está a serviço do progresso da sociedade brasileira e dentro da capacidade de carga da natureza. Dever e razão de um banco 100% público.

 

Esta agenda coloca a CAIXA como protagonista na transformação da vida das brasileiras e dos brasileiros, de maneira genuína e comprometida com nossa vocação de construir caminhos de dignidade, justiça social e restauração e conservação ambientais. Esta agenda faz a CAIXA o banco da transformação, da dignidade e da vida!