Da Redação
Mesmo quem acompanhou o retrocesso da comunicação da CAIXA, desde 2019, se assusta com o processo de desmonte realizado pela administração Pedro Guimarães e que continua em curso. Ao assumir o comando do banco, os novos dirigentes começaram uma campanha para desacreditar tudo o que havia sido construído pelas administrações predecessoras. Uma verdadeira devassa foi feita em todos os contratos, programas e ações realizadas nos anos anteriores. Usando as estruturas de corregedoria e auditoria foram feitas investigações em todos os gestores que eram identificados como simpáticos aos partidos que perderam as eleições. A premissa foi que a comunicação servia para desvio de recursos e para financiamento de ideias e partidos de esquerda.
Uma verdadeira caça às bruxas foi aberta. Processos administrativos foram conduzidos para desestabilizar e desmoralizar os gestores de contratos de todas as áreas da comunicação. O pente fino não confirmou a maior parte das teses de desvio. Contudo, a avalanche de denúncias vazias justificou as destituições de função e retrocesso profissional de mais de uma geração de profissionais qualificados, que foram descartados e perseguidos. Muitos foram obrigados a sair da área e tratados como culpados de irregularidades que nunca existiram. Efeito Sérgio Moro dentro da CAIXA.
Até mesmo o personal trainer de Pedro Guimarães foi contratado como consultor para a área de comunicação. Formado em Educação Física, passou a orientar patrocínios e imprimir uma dinâmica pautada nos princípios e dilemas de uma guerra cultural imaginária. A vigilância sobre o que poderia ou não ser exposto nas unidades da CAIXA Cultural passou a ser feita. A chegada da pandemia juntou a vontade de não patrocinar a cultura ao desejo de desmontar tudo o que foi construído ao longo das décadas. A idade das trevas tomou conta. Exposições relevantes como da Frida Kahlo ou Salvador Dali foram substituídas por mostras de fotografias de profissionais alinhados com as novas diretrizes, restringindo a diversidade e favorecendo visões sectárias da sociedade brasileira. Os grandes shows desapareceram. A cultura se tornou irrelevante.
O Jornal da CAIXA perdeu a autonomia. A impessoalidade na administração pública foi substituída pelo culto à personalidade do novo dirigente. Quase todos os gerentes e coordenadores da assessoria de imprensa foram substituídos. Alguns por profissionais sem experiência e qualificação na área, tornando o trabalho uma atividade de alto risco.
A comunicação interna e a externa perderam pluralidade e o controle sobre a publicação dos conteúdos passou a ser feito pela própria diretoria, apoiada por consultores e vice-presidentes mais próximos ao mandatário. Um verdadeiro departamento de censura federal foi instaurado.
Diferente de outras administrações, as fotos e textos das publicações oficiais se concentraram apenas nas figuras do presidente do banco. Com a saída de Pedro Guimarães foi feito um verdadeiro mutirão para remover imagens em matérias publicadas anteriormente, numa tentativa de apagar o passado. Mas a prática de dar visibilidade ao presidente não mudou e, já nas primeiras semanas, a maior parte das matérias já estampava a foto da substituta bolsonarista. Bem no padrão populista e personalista.
Matérias, artigos e depoimentos de técnicos, gerentes, superintendentes e diretores desapareceram. Todo o conhecimento técnico da empresa deixou de ser compartilhado pelos canais oficiais de comunicação interna. Apenas as informações filtradas e aprovadas pela censura prévia eram publicadas. Os veículos internos se tornaram lentos e muitas matérias perderam a atualidade e o interesse. Com isso, diminuiu a quantidade de acesso aos conteúdos, agravado pelo fato de que o mecanismo que permitia comentar as matérias ter sido desabilitado, impedindo que os leitores pudessem acrescentar, elogiar ou contestar qualquer publicação.
Marketing pessoal
A Agência CAIXA de Notícias foi substituída por uma revista eletrônica (CAIXA Notícias) que nunca decolou. O projeto foi boicotado. A equipe foi desmontada e vários erros aconteceram, culminando com a publicação acidental nas mídias sociais da assessoria de imprensa de uma paródia com a música “Papai eu quero me casar”, que colocava o Eduardo Bolsonaro pedindo ao pai para ser embaixador brasileiro nos Estados Unidos da América, feita por um profissional de uma agência contratada pela CAIXA, que teve o contrato rescindido e não substituído.
A consequência foi fechamento dos perfis da imprensa da CAIXA em todas as mídias sociais. Foi cortado o principal contato com os jornalistas de centenas de pequenos veículos e outros tantos influenciadores sociais que mantinham estreito relacionamento compartilhando assuntos das áreas de marketing esportivo, cultural, loterias, economia e outras que tanto interessam à CAIXA. O trabalho de uma década foi colocado no lixo.
Paradoxalmente, foi criado um programa de marketing e promoção pessoal sem par na história da empresa. Denominado CAIXA Mais Brasil, a agenda de viagens foi definida de acordo com a vontade de Pedro Guimarães. Na agenda não havia nenhum critério negocial, institucional ou de interesse social.
As viagens serviram para reuniões com aliados políticos, amigos empresários, empregados compulsoriamente chamados e visitas a obras e locais turísticos. Nenhuma rendeu mais que notas de registro na imprensa local, além de matérias de autopromoção nos veículos internos. Não se anunciou novo programa para os locais visitados, nem tampouco a assinatura de algum contrato importante ou entrega de obra. Dezenas de milhares de reais foram gastos com o staff. A mobilização de jornalistas, fotógrafos, cinegrafistas e equipe técnica de comunicação não produziu pautas relevantes ou qualquer informação útil à sociedade.
Nenhuma relevante pauta jornalística surgiu das mais de 140 viagens realizadas. Nunca se saberá quantas delas serviram de cenário para os assédios de Pedro Guimarães.
Atualmente, o silêncio impera entre os profissionais da área de comunicação da CAIXA. O punho de ferro tenta moderar a atitude que manteve a área alinhada desde 2019. Ainda perdura o medo, a falta de autonomia e o adoecimento. Contudo, há uma enorme expectativa de que os ares de outubro, com a volta de Lula, façam a democracia florescer e a primavera devolver as cores de outrora.