CAIXA, um bem público na vida das pessoas.

A agenda intencional de desmonte da Inovação na CAIXA

Da Redação

 

“A única constante é a mudança”, é uma famosa frase atribuída à Heráclito de Éfeso e independente da lente que se utiliza para interpretar esta frase ela é sempre significativa. A manifestação de vida é inerentemente mudança, do nível atômico ao transcendental, passando por células, órgãos, sistemas, organismos e coletivos. O mesmo ocorre com as organizações, a capacidade de se reinventar, renovar e transformar é o que combate a obsolescência e, portanto, reforça a vida das (e nas) organizações.

Reinventar-se ainda que um ato ativo de cada sujeito não ocorre de forma isolada, ao reinventar-se modifica-se as relações que se tem com o meio em que se encontra, modifica-se, portanto, o próprio meio que, por sua vez, ao modificar-se, modifica novamente o próprio ator que iniciou a mudança num ciclo ininterrupto de feedbacks – reforços e restrições – que o centenário, brilhante pensador, Edgar Morin chama de ciclos recursivos e retroativos do pensamento complexo, cujas bases ele é o filósofo criador.

Atenta a este duplo (e gigante) desafio, em uma reestruturação robusta e pensada, em 2013/2014 a CAIXA redefiniu seu modelo de gestão, que incluía entre outras mudanças a alteração de estrutura e dinâmica de processos. Naquele momento foi criada, vinculada à Presidência, a Diretoria de Organização e Estratégia (DEORE), a Superintendência de Inteligência Corporativa e Estratégia (SUICE), vinculada à DEORE e a Gerência Nacional de Inovação (GENOV), vinculada à SUICE.

A SUICE tinha o propósito de coordenar o planejamento estratégico do conglomerado de forma transversal e articulada com todas as unidades estratégias da CAIXA e integradora dos variados instrumentos utilizados pela empresa para orientar os esforços coletivos como o orçamento, plano de negócios e portfólio de projetos – este sob gestão direta da SUICE. Em um esforço para romper com o auto-referenciamento marcante da CAIXA também foi criada pela SUICE uma rede de inteligência corporativa, com gerências de inteligência de mercado presentes nas unidades de negócio da CAIXA e cujo papel era alimentar toda as unidades de informações externas, fazendo com que os tomadores de decisão, formuladores de estratégia e executivos da CAIXA olharem para fora e para frente, para o futuro.

Por esta intenção de contribuir com a reinvenção e renovação permanente da CAIXA, incorporando a inovação como um valor corporativo – naquele momento de 2014, inclusive, enunciado como um dos valores da identidade organizacional da empresa – a GENOV foi criada vinculada à SUICE, ou seja, conectada à estratégia, ao olhar de futuro.

O desafio dessas áreas era, acima de tudo, um desafio de mudança de cultura: a SUICE buscava levar à CAIXA para além do auto-referenciamento e do imediatismo como pano de fundo para tomada de decisão enquanto a GENOV buscava romper as barreiras de mudança, experimentação e conexão com atores internos e externos, mudando traços culturais que são comumente classificados como feudais em analogia ao período histórico homônimo.

A literatura sobre Cultura Organizacional e sua mudança é abundante. Compostas por quadros altamente capacitados – e reconhecidos pela empresa como tal – SUICE e GENOV desenvolveram uma estratégia e um programa de transformação. Pela SUICE uma metodologia e um sistema de gestão estratégico robusto e baseado nas melhores práticas nacionais e internacionais que culminaram com um primeiro e marcante símbolo que foi o primeiro mapa estratégico da história da empresa que foi explicado, distribuído e disposto em todas as unidades pelo Brasil, motivo de orgulho e de comunicação presente e efetiva da estratégia, dando sentido a todas as pessoas que fazem a CAIXA do porquê de cada trabalho, cada objetivo e cada meta.

A GENOV criou o Programa #CAIXAlab de Inovação da CAIXA, o #CAIXAlab se espalhou pelo Brasil, em parceria com diversas áreas, por meio de cursos, oficinas, laboratórios, concursos de ideias, hackathon, TEDx e modelos regionais de comunicação, projetos experimentais, disseminação do Design Thinking e termos e técnicas como dores e jornadas dos usuários, ideação, brainstorming, pensamento lateral, prototipação e avaliação de valor e usabilidade. Por aproximadamente cinco anos a GENOV trabalhou para cumprir seu propósito de apresentar caminhos alternativos de futuro para a CAIXA, com liberdade de comunicação, criação, coragem e persistência para resgatar o potencial criador e revolucionário da CAIXA.

Tanto os trabalhos da SUICE quanto os da GENOV foram baseado em modelos participativos e de cocriação, com oficinas presencias e rede virtual de compartilhamento, escuta ativa e empatia, a fim de identificar as regionalidades e incluí-las nas escolhas e diretrizes definidas porque é desta pluralidade que vem nossa força e vem o repertório igualmente plural para estratégias mais robustas e inovações mais transformadoras, pois, ao contemplarmos muitos olhares diminuímos as tendências e vieses individuais.

Como sempre lembrado e disseminado pela superintendente nacional da SUICE à época, a CAIXA foi criada por Dom Pedro II para receber a poupança dos escravizados que com essa economia compravam sua alforria e para fazer penhor evitando a exploração das pessoas, na maior parte das vezes, mulheres de classe média que penhoravam suas joias e com o dinheiro poderiam libertar-se, talvez, de um marido abusivo. Ou seja, desde o século XIX a CAIXA existe para abrir caminhos em direção à vida digna, à cidadania plena e à justiça social a todos que estão marginalizados em um sistema desigual, violento e excludente.

Já pararam para pensar no tamanho da revolução que foi uma Caixa Econômica e Monte do Socorro no Brasil imperial escravista? Isso é inovação que hoje, no século XXI, chamamos de inovação de impacto! E nós fazíamos no século XIX! Apesar de presente, este propósito genuíno de transformação foi dando lugar para uma imitação pouco efetiva das práticas dos demais atores do sistema financeiro, seja fruto de uma “mentalidade de vira-latas” da CAIXA seja pela miopia estratégia ou incompetência de seus dirigentes que chegou ao ápice com a administração que assumiu em 2019 com a agenda evidente de desmonte e subordinação de uma estatal aos interesses de um governo temporário.

Em 2019 SUICE e GENOV foram extintas, substituídas por áreas que passaram a proclamar compromisso com compliance e governança que na verdade e, descobrimos pela coragem de diversos colegas em trazer à luz, estavam a serviço de patrulha ideológica e perseguição de todos que não se curvavam ao desmonte e à prática de assédio moral e sexual implantado como modelo de gestão de pessoas e da empresa com a triste conivência de empresas concursados que aí ainda estão. Junto com a extinção das áreas foi paulatinamente sendo desfeito, desacreditado ou esquecido todo o trabalho de construção, o mapa estratégico e a rede de inteligência deram lugar a objetivos impostos pela presidência e comunicados de forma vaga e incompleta a fim de permitir que tudo que se quisesse pudesse ser feito e disfarçado com uma narrativa criativa – e bem questionável – de governança. Tema para o qual temos uma publicação específica que você pode consultar aqui.

A parceria de inovação aberta da CAIXA com a USP, pioneira em formato, abrangência e benefício para a empresa, foi unilateralmente cancelada sem nem ao menos ter sido testada e experimentada porque fora criada no período do governo considerado inimigo. Potenciais parceiros em concursos de ideias e projetos inovadores foram excluídos mesmo depois de avaliados como melhores indicados por conta de posicionamentos pessoais contrários a ações do governo federal e os empregados que tiveram maiores destaques nos trabalhos foram silenciados, dispersos e rotulados como persona non grata para nenhuma nova posição na empresa. Claro que, estrategicamente, e para isso tem estratégia, alguns foram usados como exceção para comprovar a regra, prática marcante nesta gestão.

A agenda disso tudo é evidente para todos os que por anos se dedicaram a entender cenários e interpretar movimentos estratégicos: tirar a capacidade crítica da empresa, deslegitimar as lideranças existentes para que qualquer um pudesse assumir qualquer cargo e, assim, colocar pessoas sem a maturidade adequada, sem o conhecimento necessário para subsidiar tomadas de decisão em favor da CAIXA mas sim obedecer sem base para questionamento – seja por medo, seja por ignorância – qualquer desmando que, como os que já indicamos anteriormente, servem a um único fim: deixar a CAIXA incapaz de reinventar-se de forma difusa, ou seja, impossibilitar que os empregados percebam as mudanças do contexto, elaborem possibilidades de resposta, testem estas possibilidades, avaliem-nas e escale, expanda aquelas que tiverem melhores condições de garantir que a CAIXA cumpra seu verdadeiro papel de transformar a realidade do Brasil a partir da apresentação de dinâmicas novas nos setores da economia.

Tornar a CAIXA obsoleta ao enfraquecer sua capacidade de inovação, renovação, mudança e estratégia, tira do Brasil um dos mais poderosos meios de transformação que temos: uma empresa pública, presente em todos os lugares, com uma agenda de engajamento e geração de valor social e sustentabilidade legítimos para atuar na economia a fim de mudar as bases da concorrência pela própria prática concorrencial e também a dinâmica econômica por meio de políticas públicas e ações anticíclicas. Ao definharmos com a privatização velada de negócios potenciais espalhados pelo conglomerado e uma agenda privada sendo implantada no que resta de público na CAIXA, definhamos o Brasil junto!

É possível sair deste atoleiro, levantar a cabeça e resgatar nossa capacidade de olhar para a frente (para o futuro), para fora (para o mundo) e experimentar novas narrativas, ou seja, novas práticas de como alcançar a sustentabilidade forte e a vida digna a todos os brasileiros. Para esta reconstrução é fundamental o apoio explícito, irrestrito, disciplinado e presente da alta administração, especialmente dos dirigentes da empresa. Vale lembrar que, os trabalhos da SUICE e GENOV mais prosperaram durante a gestão do então presidente Jorge Hereda, tão presente e envolvido com estas agendas que a visão de sermos um dos três maiores bancos do Brasil foi antecipadamente atingida, programas provocados pelas discussões levadas pela SUICE ao Conselho Diretor como o da Transformação Digital foram criados e Design Thinking, projetos e oficinas de inovação espalharam-se pelo país e ajudaram a identificarmos talentos que ainda hoje são lembrados ou atuam na CAIXA e mesmo fora.

Com dirigentes verdadeiramente comprometidos com o papel transformador da CAIXA e competentes para o desempenho do seu papel, o que inclui, terem a maturidade de contornar comandos deletérios à CAIXA e apresentar alternativas benéficas à companhia, poderemos:

  1. Assumir o compromisso de colocar a inovação na CAIXA a serviço da transformação do Brasil, objetivo com o qual a empresa foi criada.
  2. Reestabelecer o espaço corporativo e unidades em nível de influência e direção proporcionais para discussão e construção estratégica e de inovação.
  3. Incorporar à avaliação de desempenho de dirigentes o compromisso efetivo com inovação e estratégia.
  4. Implantar a política, estratégia e modelo de gestão de inovação abandonados pela atual administração que adotavam um modelo participativo, aberto e transparente.
  5. Assegurar orçamento específico para Inovação e voltado aos três horizontes de transformação: H1 (otimização do presente), H2 (transição para futuro) e H3 (futuro radicalmente novo).
  6. Implantar um espaço de incubação e uma sandbox dentro da CAIXA para fomentar o intraempreendedorismo e a experimentação em larga escala.
  7. Formar lideranças com conhecimento e, especialmente, práticas de gerenciamento de pessoas e processos amigáveis à inovação.
  8. Resgatar e expandir o programa de inovação aberta da CAIXA com parcerias nacionais e internacionais para fomento de práticas inovadores em temas-chave para a organização, como economia regenerativa, agroecologia, cidades inteligentes, humanas e inclusivas, desenvolvimento de territórios sustentáveis, políticas públicas de cidadania e dignidade (MCMV, Bolsa Família e renda mínima, igualdade de gênero e racial, entre outros)
  9. Implantar o projeto de Agências do Futuro abandonados, sem nem conhecer, por esta administração.
  10. Assegurar governança da estratégia e da inovação íntegras, livres e comprometidas com a CAIXA e não com governos temporários, ainda que sejamos parceiros e executores das políticas destes governos.