Do portal Reconta aí
Agências e postos de atendimento da Caixa Econômica Federal receberam verbas e orientação para a compra de brindes para promover o programa Caixa Para Elas, criado após o escândalo de assédio sexual envolvendo o ex-presidente do Banco Público, Pedro Guimarães.
A ação ocorre a 55 dias do período eleitoral, momento em que, segundo a Lei Eleitoral, é vedada a distribuição gratuita de brindes pagos que possam beneficiar algum candidato. No caso, o candidato beneficiado seria o presidente Bolsonaro, conforme explica Vítor Lucena, advogado na área de Direito Eleitoral e Político e sócio da Canuto e Lucena Advogados.
“Segundo a Lei das Eleições (Lei nº 9.504/1997), é vedada a distribuição de bens, valores ou benefícios por parte da Administração Pública no ano eleitoral, conforme art. 73, § 10º desta Lei. A Caixa Econômica Federal faz parte da Administração Pública e está sendo usada para, por meio de brindes, angariar simpatia à atual gestão do Governo Federal”.
Bombons para clientes, acúmulo de funções para bancários
Além da distribuição dos brindes, a diretoria da Caixa transformou bancários em publicitários da instituição. O comunicado enviado às agências e postos de atendimento orienta que os empregados da Caixa entrevistem, fotografem e filmem as mulheres presentes no espaço.
Uma situação que sobrecarrega ainda mais os empregados do Banco Público, que segundo estudo realizado pela Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae) em parceria com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), já atendem uma quantidade sobrehumana de clientes. Apenas entre 2018 e 2021, período analisado, cada empregado da Caixa atendeu cerca de 1,7 mil correntistas, segundo o estudo.
Uma realidade que vem gerando uma onda de adoecimento físico dentro da categoria, como denunciou recentemente o Comando Nacional dos Bancários. Além do levantamento feito pelo Comando para a negociação com a Fenaban, uma pesquisa feita em 2021 pela Associação de Gestores da Caixa no Rio de Janeiro (Agecef-Rio) e o Dieese revelou que a sobrecarga de trabalho e a cobrança de metas abusivas durante a pandemia fez com que 88% dos bancários sentissem ansiedade, depressão, angústia e pânico. Fato que pode ter a ver com outro levantamento encomendado pela Fenae à Universidade de Brasília (UnB), que mostrou que 53% dos empregados relatou ter sofrido assédio moral na Caixa.
Sindicatos e associações criticam o oportunismo do Caixa Para Elas
De acordo com o Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários do Rio de Janeiro, a criação do programa Caixa Para Elas é uma estratégia de marketing e não uma ação para mudar a realidade dos assédios dentro do banco público.
Eliana Brasil, diretora executiva da Contraf-CUT e empregada da Caixa, afirmou ao sindicato que serviços específicos que visam reduzir o preconceito estrutural contra as mulheres na sociedade brasileira são bem-vindos. Contudo, a dirigente faz uma ressalva: “O que nos parece é que se trata mais de uma ação de marketing para amenizar os impactos sofridos com o escândalo das denúncias envolvendo o ex-presidente da Caixa (Pedro Guimarães), do que algo que efetivamente possa reduzir os problemas enfrentados pelas mulheres brasileiras”, disse.
“Se o banco quisesse verdadeiramente promover alguma mudança de gestão e na sociedade, deveria dar celeridade às investigações das denúncias já feitas e às que chegarem, sempre de forma transparente e objetiva. Isso sim inibiria o assédio e poderia ser tido como exemplo”, completou Eliana Brasil.