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Um mês sem Pedro Guimarães

Da Redação

Há um mês, em 28 de junho, a manchete “Exclusivo: funcionárias denunciam presidente da Caixa por assédio sexual” era publicada. Assinada por Rodrigo Rangel, a reportagem trouxe relatos chocantes. Entre convites para sauna e quartos de hotel, as empregadas da Caixa fizeram fundamental trabalho de expor o comportamento criminoso de Pedro Guimarães, que já se arrastava por mais de três anos. Informalmente, na “rádio corredor”, Guimarães já era largamente conhecido por seus crimes de assédio  sexual, além de ter protagonizado inúmeros assédios morais, dentre eles a vexatória série de “flexões” num encontro de altos gestores da Caixa.

Curiosamente, uma das falas mais repetidas de Guimarães é que, sob a sua gestão, a Caixa havia saído das “páginas policiais”. A fala que nada mais era que um artifício para perseguir e destruir a vida e carreira de desafetos, se voltou contra ele, numa interessante reviravolta. Guimarães viria a estampar a capa dos principais jornais do país, como Estadão, Folha de S.Paulo e reportagem especial no Fantástico e Jornal Nacional.

As palavras de Guimarães no dia seguinte às denúncias estarrecedoras, que repercutiram em todo país,   demonstraram cinismo sem limite: “quero agradecer à minha esposa. São 20 anos, dois filhos. Uma vida inteira pautada pela ética.” Guimarães já havia sido denunciado em pelo menos dois bancos pelos quais trabalhou, BTG e Santander, de acordo com reportagem do jornal O Globo.

Já na quarta-feira (29), Pedro Guimarães renunciou à presidência da Caixa por meio de carta aberta em que dizia que as acusações contra ele são falsas e não “se sustentarão ao passar por uma avaliação técnica e isenta.” De novo, é no mínimo cínico que Guimarães tenha defendido uma avaliação isenta, já que em sua gestão a ferramenta de denúncias e apuração da empresa, a Corregedoria da Caixa, era subordinada à Presidência, portanto, sob seu comando e de seus aliados.

A saída de Guimarães pela porta dos fundos da garagem representa uma vitória das empregadas que ousaram denunciar, mesmo diante de um presidente que se gabava da proximidade com o Presidente da República e não se furtou a citar suas “quinze armas”, bem como das entidades representantes das e dos trabalhadores que resistiram ao desmonte da Caixa nestes anos .

No entanto, a luta não se encerra aí. O crime de assédio sexual deve ser investigado de maneira isenta e estendida a todos os envolvidos que o acobertaram e apoiaram, com a devida punição na esfera civil e criminal. Aqui não custa repisar o chão batido: assédio é crime tipificado pelo Código Penal, com previsão de pena de um à dois anos de prisão.

Na esteira do escândalo e no mesmo dia da renúncia de Guimarães, foi anunciada a nova presidente da Caixa, Daniella Marques que, neste período, fez a realocação da Corregedoria para o Conselho de Administração, criou canais de denúncias e fez a promessa do fim das perseguições e assédios. No entanto, tenta manter nas entrelinhas, usando sempre a conjunção “se” para revelar dúvida se de fato aconteceram os assédios. São mais de 50 denúncias e, ontem, o Ministério Público do Trabalho instaurou inquérito civil público por considerar que as acusações infringem a ordem jurídico-trabalhista e fere os direitos coletivos dos colaboradores. Com o inquérito civil, as investigações podem resultar na proposição de ações do MP do Trabalho na Justiça.

 

Aqui vale lembrar que Daniella Marques, assim como Pedro Guimarães, foi indicada pelo ministro da economia Paulo Guedes, o mesmo que usou o discurso misógino para se referir à esposa do presidente francês, Emanuel Macron, que chamou os funcionários públicos de “parasitas” e que debochou das viagens das empregadas domésticas para Disney. “Uma festa danada”, disse Guedes ao criticar o período de câmbio baixo do dólar.

Com pouco menos de um semestre à frente da Caixa, cabe a Daniella Marques realizar três missões para provar que sua gestão vai além de uma retórica vazia. É preciso garantir a integridade das mulheres que denunciaram Guimarães, promover investigações isentas sobre os crimes de assédio e devolver ao empregado Caixa um ambiente digno de trabalho.