NOTA DO COMITÊ POPULAR DE LUTA E DEFESA DA CAIXA
Acabou, há pouco, uma longa e tenebrosa noite de três anos e meio para as empregadas e empregados da Caixa. Demorou, mas graças a coragem ímpar de mulheres da empresa, rompeu-se hoje a primeira leva da barragem que escondeu por 1.275 dias e 12 horas, parte dos detritos que representam as piores práticas de assédio sexual e moral, suportados numa triste espiral do silêncio. Agora foram expostas à luz, na última saída da garagem da empresa desse personagem pavoroso, que se vai pelo justo porão da história.
O fim da “gestão da meritocracia e do Excel” de Pedro Guimarães, alçado à presidência da Caixa trazendo consigo sua legião de sicários e recrutando o apoio interno de “colaboradores voluntários”, deixa nas linhas da planilha um somatório de destruição, pavor, perseguição, extermínio de carreiras, processos seletivos questionáveis, cujo produto é o esgotamento e adoecimento dos empregados da Caixa.
A carta de despedida do agora ex-presidente, somada à sua bizarra aparição, momentos antes, em reunião interna da empresa, são o toque final do enredo trágico que lhe garantirá o de pior presidente da Instituição e sua submersão no ostracismo e esgoto da história.
Fica o alerta: sua simples troca não elimina o mau cheiro que persiste e sua saída não pode representar o abafamento das graves denúncias e fatos apontados. Foi-se o chefe, ainda ficam os cúmplices. Urge a continuidade de investigações, ações de exemplares de mudanças e responsabilizações aprofundadas, isentas e, é claro, externas à Caixa.
Afinal resta, inequívoco, que falharam todos os mecanismos de controles internos da empresa. Eles foram capturados pela atual gestão e utilizadas como espécie de polícia política interna e só serviram para perseguir quem quer que fosse, nos duvidosos processos de correição e auditoria, verdadeiros “sunderkomandos”.
Pois bem: terão agora envergadura moral e legitimidade para a missão de esclarecer e responsabilizar, a fundo, os graves fatos agora publicizados e que apontam para uma cultura institucionalizada de assédio, que não seria possível sem a conivência obsequiosa de vários outros?
É fundamental garantir mecanismos de proteção, conforto, suporte psicológico e reconstrução da história de vida das colegas que denunciaram e dos que ainda venham em expor as entranhas desse pesadelo que afetou carreiras, famílias, vidas, filhos e projetos de vida.
Por fim, não podemos deixar de registrar as digitais do governo Bolsonaro, sempre tão próximo e conivente com Pedro Boto da Garagem, nos bizarros eventos de autopromoção no Palácio do Planalto, nas chamadas telefônicas, ao vivo, nas inúmeras lives e momentos íntimos de lazer e veraneio. Os empregados da Caixa aguardam do presidente da Nação uma manifestação oficial quanto aos graves acontecimentos. Quem sabe nessa quinta-feira na tradicional live, com os dois juntos, explicando todos os fatos.
O dia 30 de junho entra para a história como o Dia das Seis Valentes Mulheres, contra o assédio. E marca a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar.