Do Portal Reconta a\u00ed<\/p>\n
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Prestes a fazer dois meses, o esc\u00e2ndalo de ass\u00e9dio envolvendo o ex-presidente da Caixa Econ\u00f4mica Federal -Pedro Guimar\u00e3es – ainda n\u00e3o teve um desfecho; por\u00e9m, segue mobilizando esfor\u00e7os.<\/p>\n
\u201cPrecisamos aprofundar o debate sobre ass\u00e9dio sexual no mundo do trabalho e a import\u00e2ncia de se denunciar toda pr\u00e1tica delituosa. N\u00e3o podemos admitir que nenhum superior hier\u00e1rquico se aproveite do cargo de poder que ocupa para assediar sexual e moralmente as mulheres, pois os corpos das mulheres n\u00e3o s\u00e3o propriedade de seus chefes\u201d, afirmou a deputada Erika Kokay (PT-DF) em audi\u00eancia p\u00fablica sobre ass\u00e9dio no trabalho realizada na tarde desta quinta-feira (18) na Comiss\u00e3o de Trabalho, Administra\u00e7\u00e3o e Servi\u00e7o P\u00fablico (CTASP) da C\u00e2mara dos Deputados. A audi\u00eancia foi solicitada pela parlamentar.<\/p>\n
Al\u00e9m de representantes de associa\u00e7\u00f5es de empregados, sindicatos e do Minist\u00e9rio P\u00fablico do Trabalho de Pernambuco, a mesa do evento contou com a presen\u00e7a de uma das v\u00edtimas de ass\u00e9dio da Caixa. Em um depoimento que levou muitos dos presentes \u00e0s l\u00e1grimas, falou sobre o ass\u00e9dio que sofreu e repassou relatos de outras colegas.<\/p>\n
D\u00e9bora Duprat, subprocuradora da Rep\u00fablica aposentada, defendeu que o ass\u00e9dio \u00e9 uma pr\u00e1tica de gest\u00e3o do governo Bolsonaro. De acordo com a especialista, o ass\u00e9dio se coaduna com a inten\u00e7\u00e3o do atual presidente de ser um l\u00edder totalit\u00e1rio, que vem desde o in\u00edcio de seu governo, minando a burocracia estatal. \u201cO ass\u00e9dio institucional \u00e9 parte de uma s\u00e9rie de estrat\u00e9gias que minam a capacidade de resposta administrativa\u201d, afirmou.<\/p>\n
Sobre o epis\u00f3dio ocorrido na Caixa, Duprat avaliou: \u201cN\u00e3o podemos ignorar que o ass\u00e9dio sexual ocorrido na Caixa \u00e9 um crime e tem uma dimens\u00e3o do ass\u00e9dio institucional que n\u00e3o pode ser negligenciada. Ele mostra como o governo Bolsonaro trata as mulheres”.<\/p>\n
Uma posi\u00e7\u00e3o que encontra eco na opini\u00e3o de Rita Serrano, representante dos empregados no Conselho de Administra\u00e7\u00e3o da Caixa: “N\u00e3o foi um ass\u00e9dio sexual vinculado a uma rela\u00e7\u00e3o pessoal. Ele envolveu tanto a institui\u00e7\u00e3o (Caixa), como as falhas no processo de governan\u00e7a favoreceram chegar nesse estado. Esse ass\u00e9dio reverbera em toda a estrutura de governo”.<\/p>\n
Presente na audi\u00eancia, Sergio Takemoto, presidente da Fenae, se deteve sobre as pesquisas realizadas pela Federa\u00e7\u00e3o que representa e que mostram que desde 2019, a sa\u00fade mental dos funcion\u00e1rios est\u00e1 se deteriorando. “Fizemos tr\u00eas pesquisas para saber sobre o ambiente de trabalho e a sa\u00fade mental dos empregados da Caixa. Os dados s\u00e3o terr\u00edveis: de cada 10 empregados, 6 relataram ter sofrido ass\u00e9dio. No mesmo sentido, 77% das pessoas viram casos de ass\u00e9dio e mais de 90% sentem muita press\u00e3o no ambiente de trabalho. Isso se reflete na sa\u00fade dos empregados e no absente\u00edsmo no emprego”, explica.<\/p>\n
Com a voz embargada, Carolina Lacerda Tostes – uma das v\u00edtimas de ass\u00e9dio – relatou: “O meu caso foi menos grave. Os relatos v\u00e3o desde chefes que beijavam a nuca das empregadas no ambiente de trabalho, at\u00e9 chefes que pediam as empregadas em trabalho remoto se levantasse para verem se elas estavam de biqu\u00edni”.<\/p>\n
O relato foi respondido pela ex-presidenta da Caixa, Maria Fernanda Coelho: “A coragem das mulheres que tiveram a ousadia de denunciar o presidente da Caixa nos inspira”. E inspirada, Maria Fernanda, que atualmente faz parte do Comit\u00ea Popular de Luta em Defesa da Caixa revelou a “escalada do terror na Caixa”. Segundo ela, entre 2003 e 2016 o governo, respons\u00e1vel pela indica\u00e7\u00e3o do gestor da Caixa, incentivou a cria\u00e7\u00e3o de inst\u00e2ncias de prote\u00e7\u00e3o \u00e0s mulheres dentro de empresas p\u00fablicas. Uma a\u00e7\u00e3o que surtiu efeito, j\u00e1 que em 2015, por exemplo, n\u00e3o houve sequer um relato de ass\u00e9dio sexual dentro do Banco P\u00fablico. Contudo, disse que entre 2019 e 2022 houve uma explos\u00e3o das den\u00fancias de ass\u00e9dio, “que chamamos de a escalada do terror nas institui\u00e7\u00f5es p\u00fablicas federais”.<\/p>\n
Mel\u00edcia Carvalho Mesel, Procuradora do Minist\u00e9rio P\u00fablico do Trabalho (MPT) de Pernambuco, deixou um recado duro \u00e0s empresas que pensam em esconder casos de ass\u00e9dio: “As empresas ser\u00e3o responsabilizadas pois s\u00e3o respons\u00e1veis pelos seus prepostos\u201d, justificou.<\/p>\n
Isso se elas n\u00e3o decidirem tomar atitudes que previnam casos de ass\u00e9dio. Os dados trazidos pela procuradora mostram que somente neste ano, o MPT recebeu 300 den\u00fancias de ass\u00e9dio sexual e de ass\u00e9dio moral foram 3.309. “O ass\u00e9dio sexual ocorre, mas as v\u00edtimas nem sempre denunciam: h\u00e1 medo de perder o emprego, h\u00e1 a revitimiza\u00e7\u00e3o (porque nos crimes sexuais a culpa sempre recai sobre a mulher), e porque essas mulheres n\u00e3o acreditam nos sistemas de justi\u00e7a”, explica. Por\u00e9m, a profissional explica que esse sil\u00eancio se rompe na primeira den\u00fancia: “Se uma trabalhadora denuncia, outras v\u00eam a reboque. H\u00e1 um pacto de solidariedade e sil\u00eancio que \u00e9 inconsciente e que acaba beneficiando o agressor”.<\/p>\n
A especialista prossegue: “O ass\u00e9dio \u00e9 a ponta do iceberg de uma sociedade calcada em comportamentos preconceituosos, machistas, mis\u00f3ginos e machistas, e esses comportamentos reverberam para o mundo do trabalho”.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
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